RODRIGO BIVAR Curadoria: Taisa Palhares Período: 23 de setembro a 22 de dezembro de 2017 Livre para todos os públicos
Pelo menos desde 2013, a pintura de Rodrigo Bivar passa por transformações. Artista que pertence a geração que surge na segunda metade dos anos 2000, inicialmente sua produção se caracterizava por uma figuração que emulava a imagem fotográfica, em composições em que o realismo da composição convivia muitas vezes com um certo distanciamento. Em 2015, com a exposição Lapa, as referências à visualidade do mundo real aparecem reestruturadas num espaço dinâmico baseado na divisão geométrica de faixas horizontais e verticais, mas cuja paleta de cores se assemelha àquela das telas figurativas. Contudo, o que poderia ser visto como uma retomada da seriedade da abstração, em contraposição ao caráter narrativo inevitável da figuração, não corresponde de fato ao movimento do artista. O foco, a meu ver, estava na explicitação da noção de trabalho como jogo combinatório, em que o processo de construção é feito a partir das ações de aplicação, sobreposição e encobrimento das massas de cor. As bordas das telas, em seus respingamentos e restos de tinta, representam os ruídos que afinal coexistem com a composição geométrica aparentemente apaziguada. Nessas grandes telas, a estabilidade e repetição convivem com a diferença e a intuição.
Para sua exposição individual no Instituto Figueiredo Ferraz, Rodrigo Bivar permanece no campo daquilo que podemos considerar como pintura abstrata. No entanto, esse conjunto de telas apresenta pela primeira vez as novas incursões feitas pelo artista. Elas se distinguem pelo colorismo intenso e pela associação surpreendente de cores. Há ainda a repetição de uma estrutura espacial que serve como base para as variações. Contudo, formas amorfas, estranhas, surgem como de maneira orgânica nesses campos chapados de cor, desestabilizando o que seria uma aparente pureza e estabilidade da pintura.
Nosso olhar é impedido de estabelecer uma relação contemplativa com as telas. Por um lado, essas formas sugerem um deslocamento iminente. Por outro, sua estranheza não deixa de remeter com certo humor a uma experiência cotidiana em que os estímulos visuais aleatórios, imprevisíveis e desconjuntados nos atingem o tempo todo e são insconscientemente reordenados em vibrantes imagens caleidoscópicas virtuais. O interessante de novo é que a superficilidade do cotidiano que essa percepção distraída traz à tona constroi-se pelo trabalho perseverante de arranjo e rearranjo, num processo cuja materialidade não é encoberta no final. Se inicialmente era por meio da imagem fotográfica que Rodrigo Bivar questionava a relação da pintura com o mundo, pode-se dizer que aqui de uma maneira surprendente é a partir do equilíbrio construído por meio da dissonância que o mundo fragmentado, e aparentemento esvaziado das imagens mentais que formamos em nossa vivência cotidiana, recebe o teor de sua real espessura.
Taisa Palhares
Mais alguém, alguém mais?, 2017 - 180 x 150 cm Óleo sobre tela Fotos: Everton Ballardin
1. O noivo da ascensorista, 2017 - 180 x 150 cm 2. Frio nos trópicos, 2017 - 40 x 30 cm Óleo sobre tela
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