EXPOSIÇÃO . O ESTADO DA ARTE
O ESTADO DA ARTE
Curadoria: Maria Alice Milliet
Abertura: 18 de fevereiro de 2017
Livre para todos os públicos
No acervo do Instituto Figueiredo Ferraz predomina a arte contemporânea, fato raro em instituições brasileiras que com dificuldade acompanham a produção emergente. A coleção iniciada na década de 1980 segue em permanente atualização, incorporando obras adquiridas no Brasil e no exterior. Nela há sempre espaço para o novo, o que não significa que o colecionador se deixe levar por modismos ou se renda exclusivamente aos nomes consagrados pelo mercado.

Originário do colecionismo privado, em expansão há mais de três décadas, o acervo do IFF entra agora na maturidade. Instalado desde 2011 em edifício especialmente projetado para abrigá-lo, o acervo serve ao propósito de propiciar aos moradores da região de Ribeirão Preto um convívio com o melhor da arte de nossos dias. O mérito dessa iniciativa se torna ainda mais evidente diante da escassa presença de coleções públicas no interior do estado de São Paulo.

A presente seleção procura dar uma ideia da potência dessa coleção. Um simples passeio pela exposição será suficiente para revelar que as escolhas recaem frequentemente sobre artistas representados por mais de uma obra no acervo ou contemplam trabalhos de jovens emergentes. Logo se vê que não houve a preocupação de grupar os trabalhos por técnicas ou temas. Predomina a diversidade de meios de expressão, em respeito à liberdade que caracteriza a arte de hoje.

No plano ou no espaço, usando meios tradicionais como o desenho ou a pintura, ou alternativos como a fotografia, o vídeo e a instalação, a arte contemporânea é indissociável do presente. Um tempo sem ordem, sem propósito, sem limites. Daí a ousadia de criar com os mais diversos materiais, de promover combinações inusitadas, de suscitar estranhamento. Em nossa época, o belo deixou de ser inerente à criação artística. Entretanto, a beleza irrompe em certas obras. Há trabalhos que nos levam a refletir e outros que nos fazem sonhar. Ao depararmos com essa pluralidade de manifestações, raramente ficamos indiferentes. Muitas vezes, temos a sensação de estarmos diante de algo que não compreendemos plenamente. A capacidade de desestabilizar certezas é a qualidade maior da arte contemporânea cuja força de atração reside em sua conexão com a realidade.

Maria Alice Milliet
Curadora
Com base no conceito de obra aberta instituído pelo pensador italiano Umberto Eco nos idos de 1962, o entendimento da mensagem estética deixou de ser um problema com uma única resposta e passou a ser um enigma que admite inúmeras interpretações. Essa contínua produção de sentidos amplia o significado da obra. Mais que isso, a arte hoje estimula o engajamento do observador; mais que a simples contemplação, quer nossa participação.

Observar como atua a linha nos trabalhos reunidos no piso térreo do Instituto pode ser um bom começo para o entendimento da obra de arte. Elemento básico na constituição da linguagem visual, a linha serve para descrever a forma no plano ou no espaço tridimensional. A linha – um ponto que se desloca no espaço – tem por sua própria natureza uma enorme energia, a exemplo do que se vê na instalação Relâmpago de Gisela Motta e Leandro Lima em que as lâmpadas funcionam como segmentos de reta articulados num movimento ascendente; tal como palitos num jogo de armar. E não será semelhante a estrutura construtiva que Lia Chaia nos propõe em seu vídeo?

As linhas de força na escultura de Waltercio Caldas ou de Iole de Freitas atuam de modo difere. Ambos recorrem a tubos metálicos e superfícies transparentes na problematização do espaço. Enquanto as intervenções de Waltercio se caracterizam pela sutileza de sua presença, as de Iole vivem das tensões que promovem. Esse paralelo serve para mostrar como recursos semelhantes podem levar a resultados diversos.

O observador atento logo irá perceber que a linha pode criar formas e ritmos, estabilizar ou dinamizar uma composição, dar a ilusão de proximidade ou distanciamento. Alguns dirão que se trata de uma aproximação simplista à arte contemporânea. A esses vale lembrar que os artistas de hoje, tal como os mestres do passado, seguem utilizando o ponto, a linha, o plano e a cor, elementos fundamentais na construção da linguagem visual, seja por meios tradicionais ou tecnológicos.
A cor interfere nos mais variados setores da experiência humana. É ela que comanda que se avance ou pare, que nos acalma ou arrebata, que nos tranquiliza ou estimula nossa paixão. A cor provoca emoções: todos nós somos levados pelos sentimentos que as cores provocam e pelos condicionamentos impostos por nossa memória visual e pela cultura. Sua classificação em quentes e frias diz bem da capacidade que elas tem de nos afetar.

A cor é indissociável da luz. Quando o olho capta as ondas eletro-magnéticas refletidas por um objeto iluminado, nós percebemos as cores, pois todas as variações cromáticas estão contidas no espectro solar. Artistas e demais profissionais ligados à visualidade usam a cor na formação de imagens. Tradicionalmente, a pintura, em suas diversas modalidades, tem no uso da cor seu fundamento. A partir do século XIX, com o desenvolvimento de técnicas de reprodução de imagens – de início, a gravura e depois, a fotografia – a pintura vem enfretando uma competição difícil. Com o advento do vídeo e da informática, a mixagem digital de imagens provenientes de várias fontes se tornou corriqueira. A arte contemporânea não ignorou esses novos meios de criação. Nela convivem e, eventualmente, se combinam todos os meios de produção visual como se pode ver nessa exposição.

Ao percorrer o segundo piso do Instituto, o visitante irá captar a carga emocional que as obras de alta saturação cromática (cores intensas) transmitem. Ninguém passará incólume diante das fotografias de Mario Cravo Neto da série Laróyè: é o vermelho que dramatiza a cena, que suprime a banalidade do assunto e nos emociona. O mesmo acontece nas esculturas de Sérgio Romagnolo: Piano e Moto, ameaçados de derreter sob a espessa camada de cobertura vermelha, nos chocam. No extremo oposto, estão as pinturas que nos apaziguam, nos dão tranquilidade. É o caso dos quadros de Paulo Pasta, Carlos Fajardo e Sergio Sister em que predominam diagramas em cores pastel. Por fim, vale mencionar as obras que nos aproximam da natureza. Nesta categoria se insere o díptico de Patrícia Furlong, o quadro de Boi, a insinuação de paisagem de Mariannita Luzzati. Com certeza, esse passeio nunca será monótono.
WESELY, Michael (Munique, 1967)
Still life 11.1 - 20.1.2007, 2007
Série - Impressão fotográfica lambda - 210 x 180 cm
MOTTA, Gisela; LIMA, Leandro - Relâmpago, 2015
Série - 20 lâmpadas Philips TLS HO TL5-54W-Activiva,
10 reatores Philips 2XTL5 - 550 x 360 x 250 cm
CHAIA, Lia (São Paulo, 1978)
Para GB, 2015
Série - vídeo 9´- Loop
Rua Maestro Ignácio Stábile, 200 | Alto da Boa Vista | Ribeirão Preto | SP | Brasil
Terça a Sábado, das 14h às 18h | Entrada Gratuita
+55 16 3623 2261 | +55 16 3623 2262
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