O ESPÍRITO DE CADA ÉPOCA Curadoria: Rejane Cintrão Período: 16 de maio a 19 de dezembro de 2015 Livre para todos os públicos
Esta exposição reúne trabalhos de artistas brasileiros realizados desde os 80, época em que teve início a coleção Dulce e João Carlos de Figueiredo Ferraz, até os dias de hoje.
Dividida em dois andares, anos 80 e 90 no térreo e anos 2000 até o presente no primeiro andar, esta mostra tem como objetivo apresentar um panorama da arte brasileira nas últimas quatro décadas, de acordo com a coleção que o instituto abriga.
Por meio das obras aqui reunidas, organizadas cronologicamente, visamos fazer uma reflexão sobre diversos momentos do país, no plano social, político e econômico, refletidos na produção artística de cada época. Se os anos 80 foram marcados pela alegria e liberdade devido ao fim da ditadura, que refletiram de diversas formas na produção artística brasileira, os anos 90, época em que a AIDS assolou o mundo todo, foram mais reflexivos. O corpo passa a ser um dos temas abordadas por diversos artistas, assim como a busca pela identidade.
A virada de século também trouxe a sua marca, com as mídias sociais, o uso generalizado das máquinas fotográficas, os selfies, o retorno à natureza a preocupação com a sustentabilidade, o consumo de produtos orgânicos e, de forma definitiva, o terrorismo. Todos esses fatores, entre outros, estão refletidos na produção artística brasileira e em diversas obras aqui expostas.
OS ANOS 80
A década de 80 foi marcada pelo fim da ditadura no Brasil, quando uma explosão de uma nova liberdade abriu o país para movimentos na música, nas artes visuais, no teatro e em diversos meios de expressão. Surgiram novas bandas de música como Ira!, Titãs, Mulheres Negras, em São Paulo, e Blitz, Paralamas do Sucesso, Radio Taxi, no Rio. Uma nova geração de artistas plásticos revolucionou a produção de arte no país, incentivando um novo mercado, com o surgimento de diversas galerias voltadas para a arte contemporânea nacional.
Houve um retorno à pintura, marcado pelos movimentos neoexpressionista alemão e transvanguarda italiana, que influenciaram muitos artistas da geração 80 brasileira, inspirados principalmente em pintores europeus e norte-americanos que participaram das Bienais Internacionais de São Paulo da época, a exemplo da 17ª Bienal (1981), com curadoria de Walter Zanini, e da 18ª Bienal, realizada em 1985 sob a curadoria de Sheila Leirner.
No Rio de Janeiro, a exposição Como vai você geração 80? (1984), realizada na Escola de Artes Visuais no Parque Lage com a participação de 123 artistas, também rompeu paradigmas, lançando diversos jovens artistas do Rio, como Jorge Guinle, Daniel Senise, Luiz Zerbini, Nelson Félix, Cristina Canale, e de São Paulo, como Leda Catunda, Leonilson, Frida Baraneck, Sergio Romagnolo, Alex Vallauri, representados na presente exposição. Diversos artistas participantes daquela mostra histórica foram convidados a integrar a Bienal de 1985, ao lado do grupo Casa 7, formado pelos artistas Carlito Carvalhosa, Fabio Miguez, Nuno Ramos, Paulo Monteiro e Rodrigo Andrade, cujas obras abrem esta mostra.
Além dessa nova geração, artistas que já produziam desde os anos 60 e 70, a exemplo dos fundadores da Escola Brasil em São Paulo, Carlos Fajardo, José Rezende e Luiz Paulo Baravelli, bem como seus alunos Dudi Maia Rosa e Boi, encontram-se representados nesta mostra.
Liberdade, cores vivas, bandas musicais, retorno da pintura, geração 80 e juventude foram as palavras-chave dessa década.
OS ANOS 90
A liberdade dos anos 80 foi brutalmente atingida pelo surgimento da AIDS, que levou à morte muitos jovens, entre eles artistas e cantores, a exemplo de Cazuza, Leonilson, Alex Vallauri e Rafael França.
As obras dessa década reunidas nesta mostra refletem o espírito sombrio da época e a busca por uma identidade: a própria imagem (auto-retratos), o corpo, a morte e a intimidade estão presentes em diversos trabalhos, em sua maioria objetos, instalações, fotografias e performances. Exposições que marcaram a década de 90 foram Sensation, em Londres (1994), que reuniu obras da coleção Saatchi, e Espelhos e Sombras, apresentada no MAM São Paulo em 1994, sob a curadoria de Aracy Amaral. A 24ª Bienal de São Paulo, realizada em 1998, com curadoria de Paulo Herkenhoff e conhecida como a “Bienal da Antropofagia”, também foi marcante na década.
Embora sombrios, os anos 90 também trazem novas esperanças: o avanço tecnológico com o surgimento dos PCs, e a implementação das leis de incentivo fiscal, que levam à abertura de diversos espaços culturais no país.
OS ANOS 2000
A primeira década do século XXI foi marcada pelo rápido crescimento da tecnologia, que incorporou aos celulares máquinas fotográficas, e com o surgimento das redes sociais, que aproximaram pessoas nos diversos cantos do mundo, trazendo uma nova forma de ver o cotidiano.
Os artistas começam a utilizar cada vez mais a fotografia como meio de expressão, buscando novas formas e poéticas para essa técnica.
O mercado de arte cresce no Brasil, levando ao surgimento de duas feiras internacionais no país, A SP-Arte e a ArtRio. Novos artistas, novos colecionadores, novas galerias, novos espaços culturais e um novo público, que faz filas para ver exposições blockbusters.
A arte contemporânea passa a ser cada vez mais “in” e muitos cursos surgem com o objetivo de atualizar os interessados no assunto.
O terrorismo passou a fazer parte do cotidiano de todos neste século, ao mesmo tempo, as mídias sociais facilitaram a divulgação de passeatas e protestos, dando à população um novo poder.
Os celulares com câmeras fotográficas se tornam a forma mais utilizada para divulgação de eventos e, principalmente, de selfies. A privacidade se torna pública. Quer seja pelas mídias sociais, quer pelas inúmeras câmeras de segurança instaladas em todos os lugares.
Na arte, um novo retorno à pintura retrata o cotidiano por meio de obras figurativas. A imagem capturada pela câmera de segurança, no celular, pela internet ou mesmo pela máquina fotográfica é reproduzida por meio do pincel. A necessidade de um retorno à natureza leva diversos artistas a retratá-la, quer seja na pintura, quer na fotografia. A globalização leva ao questionamento do território, tema também recorrente na arte do nosso tempo.
Tecnologia, natureza, globalização, território, segurança, invasão da privacidade e as questões religiosas estão entre as diversas controvérsias deste século, refletidas na produção artística do momento.
VAREJÃO, Adriana (Rio de Janeiro, 1964) Distância, 1996 - 195 x 165 x 14 cm Óleo sobre tela, garrafas de vidro, óleo de linhaça e madeira
GALAN, Marcius (Indianápolis, 1972) Secção Diagonal, 2011 Série - Tinta, sarrafo de madeira e luminárias
BRUSCKY, Paulo (Recife, 1949) Homenagem a Morandi II, 2008 - 93 x 96 x 44 cm Banco e mesa de madeira, tapete, extintores e tijolo
LINDOTE, Fernando (Santana do Livramento, 1960) O Soberano Discreto, 2013 - 200 x 300 cm Série - Óleo sobre tela
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