GALERIA LUISA STRINACuradoria: Fernando Oliva
Período: 15 de março a 17 de maio de 2014
Livre para todos os públicos
A GALERIA LUISA STRINA NA COLEÇÃO FIGUEIREDO FERRAZ
A mostra que celebra a relação de trabalho e amizade entre os colecionadores Dulce e João Carlos de Figueiredo Ferraz e a Galeria Luisa Strina deixa evidente que a natureza deste encontro, que resultou em uma colaboração contínua que agora completa 30 anos, é responsável pelo perfil atual de um conjunto de obras marcado pela diversidade, capaz de refletir alguns dos caminhos centrais da arte contemporânea, especialmente aquela que vem sendo produzida no Brasil a partir da década de 1980, mas também seus desvios, dúvidas e riscos.
Importante lembrar que não se trata de um acervo de arte definido e acabado, mas de um cujas fronteiras estão o tempo todo se redesenhando conceitualmente. Neste sentido, é um arquivo contemporâneo dinâmico, que aumenta sistematicamente não apenas em tamanho e quantidade, mas em densidade e potência. A cada nova peça que dele passe a fazer parte, o todo é reconfigurado.
Não só à medida que ele cresce, mas também conforme o tempo passa, suas articulações internas se multiplicam e se tornam mais potentes. Portanto pouco há nele de estático e fixo, também porque a produção posterior de cada um destes artistas escolhidos continua a informar aquela que conquistou a condição de item permanente.
Esta exposição comemorativa propõe uma aproximação que busca dar conta desta complexidade e suas nuances, pensando as obras por meio de núcleos, não com o intuito de usá-los para organizá-las no espaço nem para criar separações rígidas. Eles servem como uma matriz leve, um roteiro discreto para refletir sobre a presença dos trabalhos no contexto de uma exposição que evidencia um diálogo contínuo entre uma coleção e uma galeria de arte, uma conversa que se reflete nas escolhas efetuadas e na maneira como são exibidas ao olhar público ao longo dos anos. Tal como acontece agora, mais uma vez prova que esta colaboração tem diante de si um projeto para o futuro, tanto para estas obras aqui expostas como para as tantas outras que virão redesenhar, numa mesma operação, a posição de cada uma e o contexto em que estão.
Fernando Oliva
Curador
É um prazer para todos nós do Instituto Figueiredo Ferraz prestar essa homenagem à Luisa Strina em seus quarenta anos de atividade.
Poucos podem, como ela, comemorar, com tanta dignidade, competência e coerência, uma data como essa. Apesar destes 40 anos de Galeria, para nós tudo começou em meados de 1980. Com o intuito de comprar uma obra de arte para colocar na nossa casa, fui levado por amigos á sua galeria. Localizada no segundo andar da Rua Padre João Manuel esquina com a Rua Oscar Freire, em São Paulo, a Galeria era um retângulo branco, com uma pequena sala de visitas logo na entrada, na subida a escada. Era lá que a Luisa ficava recebendo amigos, clientes, artistas, críticos de artes e alguns curiosos, como eu, pela arte contemporânea.
Não me lembro exatamente qual exposição estava sendo mostrada na época mas, para poder me dar mais opções, inclusive de preço, a Luisa mostrou o que tinha na sua reserva técnica. Era um mundo estranho e delicioso, me lembro de um rolo enorme com telas do Leonilson que ela abria displicentemente, falando que se tratava de um “artista jovem muito promissor”. Tinha em seu acervo tantas telas e tantos nomes que é impossível lembrar. Conversamos bastante, escolhi uma delas, e fui embora.
A lembrança daquelas obras, assim como da conversa que tivemos, me fez voltar à Galeria pelos 30 anos seguintes. Aprendi muito nas conversas com a Luisa e com os seus convidados, conheci os artistas e críticos que lá frequentavam e outras pessoas que, assim como eu, iam eventualmente comprar algum trabalho.
Sempre a frente do seu tempo, a Luisa nunca teve medo de arriscar: expunha artistas jovens ao lado de veteranos, mas sempre contemporâneos, investindo no seu olhar e na sua percepção, apostando naqueles meninos que logo mais fariam história na arte brasileira.
Ela continua assim até hoje, arriscando, inovando, apostando no futuro e dando oportunidades. Essa talvez tenha sido a maior lição que aprendi com a Luisa, de que a arte contemporânea traz consigo riscos que são inerentes a ela, que é preciso coragem para arriscar e assumir esses riscos.
Aprendi que uma coleção se faz com generosidade e compreensão, com entusiasmo e dedicação, mas acima de tudo, com paixão.
É essa paixão pela arte que compartilhamos com essa querida amiga.
João Carlos de Figueiredo Ferraz
Presidente e Fundador do IFF