EXPOSIÇÃO . AS TRAMAS DO TEMPO NA ARTE CONTEMPORÂNEA: ESTÉTICA OU POÉTICA?
AS TRAMAS DO TEMPO NA ARTE CONTEMPORÂNEA: ESTÉTICA OU POÉTICA? Curadoria: Daniela Bousso Período: 13 de abril a dezembro de 2013 Livre para todos os públicos
Na primeira conversa com o colecionador João Carlos de Figueiredo Ferraz durante o trabalho da curadoria, ele revelou: "Eu sempre me interessei pelo meu tempo".
A visita a uma coleção de arte nos seduz a provarmos das delícias de ultrapassarmos a nós mesmos, transpormos as fronteiras da nossa subjetividade e darmos um passeio por horizontes abertos. O sentido maior de uma coleção é, pois, para além de seu valor artístico, o seu valor como índice.
A atenção para o significado da palavra "contemporâneo" tem sido recorrente por parte de vários teóricos. Para Giorgio Agamben 1, contemporâneo é "aquele que não se deixa cegar pelas luzes do presente". Ele propõe que se mantenha fixo o olhar na escuridão de sua época, mas também que se perceba uma luz no escuro.
Propomos que o termo "contemporâneo" seja entendido como a capacidade de relação e diálogo que travamos com o nosso tempo. E aqui retomamos a afirmação do colecionador: "pelo registro e leitura do tempo, a coleção tem um caráter de análise de sua época". Esta emerge da compulsividade, do desejo sensível de convívio com os artistas e com a arte, por parte do colecionador no início dos anos 1980, quando nascem as primeiras constelações.
Imersa em uma diversidade de meios e linguagens, começou e desenvolveu-se como uma coleção de arte brasileira e atualmente está aberta a perspectivas internacionais. A coleção do Instituto Figueiredo Ferraz cruza as fronteiras do campo ampliado da criação, para retirá-la dos prováveis silêncios nos quais por vezes pode confinar-se. E lhe dá uma voz, que evoca uma certa temporalidade.
O caráter atemporal da coleção é espelhado por um trajeto livre que nos permite um movimento pendular: um ir e vir entre diferentes décadas, tempos. Este conjunto de obras constela um período de mais de trinta anos. Há um mosaico em questão. E na busca dos fragmentos, deparamo-nos com uma colheita de trabalhos que abraça mais de quatro gerações de criadores.
Três grandes núcleos podem ser percebidos na orientação da mostra, os quais dialogam com a tradição da arte: O núcleo Construtivista, onde estão agrupadas as obras geométricas e questões cromáticas; o Surrealismo e seus ecos e o estranhamento provocado pelas obras. Por fim, a influência do Barroco, sobretudo o Barroco brasileiro com as suas formas orgânicas, oceânicas.
Durante o percurso, alguns momentos que pontuam a mostra. São comentários, extraídos dos grandes núcleos: o discurso sobre materialidade situado entre o desenho e questões que aludem ao meio ambiente, o convívio entre a figura humana, a figura geométrica e as formas orgânicas, a presença de conceitualismos.
E ainda, o em franco convívio diferentes peças: um conjunto de máscaras primitivas, uma gravura de Picasso, uma biblioteca constituída de "livros de artistas", instalações, vídeos, fotografias e o acento político nas obras de alguns artistas. E ainda, para além das máscaras, outras representações da face por meio de retratos, autorretratos.
Esta mostra evidencia múltiplas formas de leitura possíveis na coleção. Ela acolhe diferentes modos da expressão contemporânea, em diálogo aberto com a tradição do Modernismo, entre a década de 1980 e a atualidade pós-virada de milênio. Ela é feita de resíduos, fragmentos, índices que nos auxiliam a perceber a fricção entre a estética e a poética, na arte contemporânea, nas tramas do tempo.
Daniela Bousso
Curadora
ALYS, Francis (Antuérpia, 1959) Sem título, 1998 Série - Mesa de madeira e objetos - Dimensões variáveis
ESPÍRITO SANTO, Iran do (Mococa, 1963) Recurrency, 1999 Série - Latão, cobre e aço inoxidável - Dimensões variáveis
GLASNER, Kilian Branco celeste, 2011 Série - Pastel sobre papel - 163 x 358 cm
Rua Maestro Ignácio Stábile, 200 | Alto da Boa Vista | Ribeirão Preto | SP | Brasil
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