AUSENTE Gordana Manic Período: 27 de junho a 15 de agosto de 2015 Livre para todos os públicos
Sobre a série Ausente
Em 24 de março de 1999, estava na aula de espanhol quando ouvi o som das bombas e senti o chão começar a tremer: a OTAN lançava bombardeios aéreos contra a Iugoslávia, iniciando a intervenção militar na Guerra do Kosovo. Pouco tempo depois, decidi deixar minha cidade natal, Novi Sad, pois não vislumbrava futuro algum nos Bálcãs. Após várias tentativas de destino, fui aceita enfim para fazer mestrado em São Paulo, onde vivo e trabalho até hoje.
Passados 14 anos de ausência, fiz uma viagem de três meses para visitar minha família e minha terra natal, agora chamada Sérvia, e quis produzir um livro que expressasse, somente por meio de imagens, meus sentimentos e reflexões na ocasião dessa visita.
Durante a viagem, eu buscava revelações a respeito de minha própria existência, questionando quem eu sou, quais são as minhas origens e qual é a minha herança. Para obter respostas, visitava parentes, folheava álbuns e vasculhava relíquias de família. Desesperadamente tentava encontrar pertences do meu pai, que faleceu enquanto eu estava no Brasil, sem poder me despedir pessoalmente. Encontrei apenas uma radiografia, mostrando grande parte de seu pulmão já destruída pela doença, e me imaginei na situação de minha mãe, morando sozinha na casa que antigamente era cheia de vida. A casa onde nasci. Senti culpa por abandoná-la.
Tentava amenizar minha constante sensação de desterro e incompletude visitando os locais que outrora significaram muito para mim: onde passava as férias na infância, onde estudava, onde foi meu primeiro beijo. Mas sentia uma forte desarmonia: embora meus sentidos ainda se conectassem com esses locais, através de sons e cheiros conhecidos, meus sentimentos permaneciam indiferentes. Além disso, sentia a ausência de amigos, pois a maioria também tornou-se imigrante, tentando sair de um ciclo de pobreza e falta de oportunidades que permanece. Diante dessas constatações, o fantasma de um possível retorno definitivo a meu país de origem tornou-se uma companhia constante, fortalecido pela dificuldade para enraizar-me novamente.
A experiência foi bastante dolorosa, pois eu precisava enfrentar diretamente essa angústia para conseguir fotografar. E após fotografar, não sabia se queria ver ou apagar. Nada mais é familiar: nem aqui, nem lá. E o que é “lá”? O que é “aqui”? Onde pertenço?
Gordana Manic
MANIC, Gordana (Novi Sad, 1973) #4, 2013 - Série Ausente Impressão jato de tinta sobre papel de algodão - 37 x 40 cm
Rua Maestro Ignácio Stábile, 200 | Alto da Boa Vista | Ribeirão Preto | SP | Brasil