ALÉM DA FORMA - PLANO, MATÉRIA, ESPAÇO E TEMPOCuradoria: Cauê Alves
Período: abril a dezembro de 2012
Livre para todos os públicos
Além da forma: plano, matéria, espaço e tempo é uma mostra que apresenta um recorte expressivo da coleção de Dulce e João Carlos de Figueiredo Ferraz. Trata-se de uma montagem que foge do cubo branco e reinventa vínculos possíveis entre trabalhos do acervo do Instituto. A seleção de artistas pressupõe o olhar e a trajetória dos colecionadores que, desde os anos de 1980, vêm reunindo um conjunto coerente e consistente de obras realizadas nas últimas três décadas. O objetivo central da exposição é, respeitando a singularidade de cada trabalho, propor uma articulação em que eles possam se relacionar, por semelhança e diferença, para além de aproximações formais e sem a necessidade de algum conceito mirabolante e postiço que os una.
A planaridade da pintura, que seria um de seus atributos exclusivos, enfatizada em grande parte pela melhor pintura moderna, foi central para que a arte pictórica tivesse autoconsciência de si mesma. Na arte contemporânea, apesar da enorme diversidade e multiplicidade de propostas, o embate com o plano permanece se desdobrando. As noções de plano e de espaço jamais poderiam ser reduzidas a uma forma. Primeiro porque o espaço não é uma totalidade completamente dominada, uma medida apenas quantitativa. Depois porque o espaço também não é homogêneo, inteiramente positivo e existente em si, o que seria uma idealização dele. O espaço, por definição, é qualitativo, é antes um campo onde todas as coisas coexistem e se integram. Ele não é o que está diante de nós, mas o campo que habitamos e que nos abrange. Portanto, o espaço não é apenas um elemento constitutivo do trabalho de arte, mas aquilo que o faz falar e que surge em relação ao nosso corpo e ponto de vista. Ele não é um elemento exterior ao observador ou invólucro do trabalho, mas o que surge entre os trabalhos e os movimentos do público.
Assim como o espaço, o tempo também é qualitativo e jamais poderia ser homogêneo. A temporalidade não pode ser compreendida na arte tal como a ciência a concebe: mensurável, fragmentada e representada pelos ponteiros ou dígitos dos relógios. O tempo que estes trabalhos de arte exigem é aquele que se infiltra no espaço e na matéria e que por isso não é determinado pela espacialidade ou materialidade. É o tempo que transcorre e permite que o presente não seja apenas um instante isolado entre o passado imediato e o segundo que está por vir. O presente é indissociável do fluxo do tempo, é a própria ligação entre as coisas. E sem a temporalidade interna dos trabalhos de arte todas as outras categorias seriam eternas, imutáveis, e a arte não seria possível.
A seleção final da mostra enfatiza o apreço que a coleção tem por jovens artistas, não apenas os atuais, mas os de três décadas atrás. Para isso foram traçados diálogos e parentescos entre distintos suportes tais como pintura, fotografia, desenho, objeto, livro, relevo, escultura e instalação. As obras apresentadas, apesar da indeterminação que é própria da arte, se oferecem à percepção revelando sua própria realidade, sua matéria, seus conceitos e modos de ser. A questão central é o que está no intervalo entre plano, matéria, espaço e tempo. Interessa tanto as virtualidades do plano, quanto a efetividade dos objetos e sua própria duração, mas principalmente o que se dá entre o sujeito e os trabalhos de arte: a experiência.
Cauê Alves
Curador