AULAS
7 aulas quinzenais, quartas-feiras, das 19h30 às 21h
10, 24 Abril / 08, 22 Maio / 05, 26 Junho / 10 Julho
2019
INVESTIMENTO
R$ 280,00 curso completo ou R$ 50,00 aula avulsa
Plano de Curso
O Diabo é, sobretudo, o símbolo elástico a serviço de uma retórica da intolerância. Se as grandes preocupações teosóficas a respeito de sua figura e função se iniciam em razão de um esquadrinhamento das origens do mal, a aplicação de seu imaginário na estruturação identitária de uma cultura ultrapassa em muito essa questão primeira, mostrando-nos de que maneira os dispositivos de poder, por parte de quem domina o discurso sobre um e outro – bem e mal, nós e eles, fé e pecado, por exemplo – são exercidos.
Na construção de seu domínio cultural, a fé cristã revelou-nos seu aspecto mais violento e violador por meio das muitas formas que o Diabo foi assumindo, no desenrolar dos milênios. Quem merece ser associado ao mal, ao diabólico, ao caos, ao pecado? Pagãos, cristãos heterodoxos, judeus, muçulmanos, 'selvagens' do novo mundo, mulheres, doentes, pobres, etc. – a longa lista de servidores do Diabo acompanha, passo a passo, a estratégia retórica de dominação da Igreja Católica oficial, embora simultaneamente tenha sempre havido aqueles que tentassem, no seio da fé cristã, restaurar a dignidade da questão sobre o mal na humanidade, uma questão de todos os tempos, todas as culturas, todas as religiões.
A história do Cristianismo no Ocidente respira na medula de vários de nossos hábitos, formando, tantas vezes inconscientes, não apenas o quadro moral daquilo que consideramos nossas 'boas ações', como também o de nossos preconceitos judiciosos. Absolutamente predominante na história da arte europeia ocidental, a rede de imagens sacras da contenda entre deus & o diabo inevitavelmente acabou por "colonizar" nosso imaginário, do erudito ao popular, atuando com vigor na estruturação do sujeito, ao menos nas bandas de cá, onde o sol se põe.
Neste curso, acompanharemos o desenrolar das imagens do Diabo, as muitas máscaras associadas a ele, seus muitos nomes e atributos. Infenso aos anacronismos, o diabo circula entre nós, arquétipo-mór das histórias de nossa sombra. Investigar seus modos de atuação, seus jogos e disfarces pode, quiçá, tornar mais rico e possível o encontro com a incomensurável, ambígua e difícil diferença, nossa e alheia. No intuito de compreender melhor e criticamente quem é essa temida figura, reabrindo assim, em nossa contemporaneidade, vias éticas de respiro fundamentais.
Programa
10/04 | aula 1 | nomear o mal: epistemologias do negativo
24/04 | aula 2 | desmontes pagãos: sobrescrever Dioniso e outros
08/05 | aula 3 | desmontes heréticos: o Diabo como instrumento de Deus
22/05 | aula 4 | o imaginário do Diabo: lendo imagens
05/06 | aula 5 | o Diabo nos trópicos: demonização do outro e colonização
26/06 | aula 6 | o Diabo na literatura: tradição faústica 1 - A trágica história do Dr. Fausto de Marlowe (1588/1592); Paradise Lost, de Milton (1667) e o Fausto de Goethe (1808);
10/07 | aula 7 | o Diabo na literatura: tradição faústica 2 - Mon Faust de Paul Valery (1946); Doutor Fausto de Thomas Mann (1947); Primeiro Fausto de Fernando Pessoa (edições póstumas, pós 1952); Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa (1956); e a tradição fáustico-picaresca dos cordéis e narrativas orais brasileiras (Jerusa Pires Ferreira);
Sobre Roberta Ferraz
Roberta Ferraz é graduada em História (USP) e Letras (PUC), mestre e doutora em Literatura Portuguesa (USP) e professora de diversos cursos interdisciplinares de cultura e literatura. Autora de livros de prosa e poesia, entre eles Saturação de Saturno (Oficina Raquel, 2013).